Juliano Holderbaum1, Maria Eduarda Soares Alberti2
A região da Serra Gaúcha foi historicamente marcada pelo processo de colonização, que gerou muitas modificações ambientais. Os ciclos de extração de madeira e corte seletivo de Araucaria angustifolia resultaram na descaracterização de muitos fragmentos de Floresta Ombrófila Mista nesta região. Diante deste preocupante cenário, em 2022, foi iniciada a implementação da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) denominada Serra Parque Jaboticaba, localizada em Veranópolis, Rio Grande do Sul. A área é caracterizada por sua vegetação predominantemente arbórea e secundária regenerada, situando-se na transição entre a Floresta Estacional Decidual e a Floresta Ombrófila Mista. O objetivo desta RPPN é proteger espécies nativas da fauna e da flora, além de promover o contato da comunidade com a natureza e fortalecer a conscientização ambiental. Diversos estudos apontam que o pinheiro-brasileiro é uma espécie chave para o ecossistema. Dentre os benefícios ofertados por A. angustifolia está a produção do pinhão, alimento nutritivo e rico em proteínas e carboidratos importantes para a fauna. Evidências apontam que a disponibilidade deste recurso está relacionada com variações populacionais de roedores, que por sua vez alimentam uma gama de espécies predadoras. Em áreas degradadas, onde as araucárias foram substituídas por espécies exóticas invasoras, é provável que esta complexa relação com a fauna esteja sendo afetada pela substituição do alimento nativo (pinhão) pelas espécies exóticas. Assim, surgiu a iniciativa do proprietário do Serra Parque Jaboticaba em plantar 150 sementes de A. angustifolia, diretamente no solo, em junho de 2022. As sementes são originárias da cidade de Caçador/SC. Por estar enfrentando um câncer em estágio avançado, após transplante hepático, o proprietário cogitava não ter condições físicas para dar seguimento ao projeto. Um ano depois, contrariando os prognósticos médicos e completamente recuperado, oficializou o projeto de conservação batizado com o nome Projeto Gralha- Azul, por conta das sementes espalhadas diretamente no solo, ato que imita a ave desta espécie. Atualmente, o projeto estende-se a atividades como: Plantio de sementes e mudas de araucárias na região da Serra Gaúcha; monitoramento da fauna silvestre na bacia do Rio Jaboticaba e Antas; além de atividades de educação ambiental e turismo voltado à conservação das araucárias e da biodiversidade associada.
1 Serra Parque Jaboticaba, Veranópolis/RS, Brasil. E-mail: juliano@serraparquejaboticaba.com.br
2 Laboratório de Evolução, Sistemática e Ecologia de Aves e Mamíferos, Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre/RS, Brasil.